terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

AS MEMÓRIAS DE UM ADOLESCENTE NA LM D'OUTRORA

Sempre gostei de cinema. Mal sabia eu que dois filmes, vistos na adolescência, no mesmo cinema, num tempo não muito distante um do outro, me forneceriam emoções que ficariam gravadas na minha memória. Bem, o melhor é começar do princípio.

Estávamos quase em meados da década de sessenta. Tinha eu treze anos e passava férias em LM, como de costume, em casa da minha avó, com os meus primos e tios. Tinham inaugurado há pouco tempo um cinema enorme, chamado S. Miguel. Queria vê-lo, ir a uma sessão. Desejava e realizei o desejo. Fui ver o “Drácula”, classificado, julgo que para dezassete anos.

Comprei o bilhete, inchei o peito e fui à sessão da tarde. O porteiro fez vista grossa. Entrei sem problemas.

No seu interior, estava pouca gente ou parecia estar, tal o tamanho que a sala tinha. No decurso do filme, o Drácula entrava em caves repletas de caixões e de cadáveres que despertavam… ó minha Nossa Senhora…enchi-me de arrepios e não era do ar condicionado.

Foi um tormento do princípio ao fim. Sair a meio, nem pensar, tinha gasto o dinheiro, conseguido entrar sem ser barrado, não podia dar parte fraca…

Quando o filme terminou, já o sol se tinha posto. Ui! a pé e para chegar a casa, embora fosse perto, todas as sombras eram projeções de figuras saídas das catacumbas!

Ao chegar, branco como à cal, deparei com a minha avó, que me perguntou, chegando-se perto de mim:

-Cheiras a quê?

Mau …­­ ­-pensei eu- querem lá ver…

E a minha avó, aproximou-se mais, torceu o nariz, fez uma cara de caso… -e antes que dissesse alguma coisa- escapuli em direção à casa de banho.

Verifiquei que nada tinha acontecido: a roupa interior estava imaculada! Fiquei aliviado. Lá fora, ouvia-a dizer-me bem alto, em tom de gozo:

-Não te esqueças de ir ver outro filme de terror!

Estas más memórias do S. Miguel, seriam eclipsadas, um ou dois anos depois, quando, já esquecido da primeira experiência, lá voltei a ver outro filme: “Barbarella”, com a Jane Fonda. Ó que bela e inacreditável cena, a da diva, enfiada numa máquina infernal. A portentosa Jane, gritava de prazer, em vez de morrer às mãos do vilão. Deu cabo da máquina com o seu orgasmo monumental.

Na minha condição de galito de crista pequena, fiquei a saber o nome dado a esse divinal momento, e que principalmente, as senhoras eram dotadas dessa interessante e celestial capacidade.

Foram dois momentos inolvidáveis, vividos no gigantesco S. Miguel, a que só fui duas vezes e me deixaram tão inolvidáveis memórias: a dos arrepios contínuos e o da descoberta, de que  as deusas, eram, felizmente, seres como nós!

  JORGE C. CHORA

       9/02/2021

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