Eu era pequeno e lembro-me do meu espanto inicial, ao entrar nas salas de cinema da Beira, que eram autênticos palácios dedicados à sétima arte. Na época eram só três: o S. Jorge, o Nacional e o velho Olympia. Havia, se ainda me recordo, na última fila, um enorme assento, diferente de todos os outros. Aquilo fazia-me espécie, mas mal entrávamos e nos sentávamos, começavam os documentários, os desenhos animados ou os reclamos e esquecia-me do assunto.
Um dia, acabei por perguntar ao meu pai, a razão de ser
daquele assento:
-É o lugar da madame Trindade. Está sempre reservado para
ela.
Acabei por ver a madame Trindade. Percebi então, a razão de
ser do tamanho do lugar que lhe era destinado. Surgiu-me outra dúvida: mas ela
caberia mesmo ali?
Quando a vi sentada, tive a certeza de que cabia, ainda que
a custo, pois ainda lhe sobravam nádegas por acomodar. Era a madame Trindade, a dona do Zoológico da
Beira, muito afável e estimada pela comunidade beirense, como vim a saber.
Já se passaram tantos anos e uma dúvida assola o meu
espírito. O lugar reservado era só no S. Jorge ou em todas as salas? julgo que
em todas, mas… passados mais de cinquenta anos, já não tenho a certeza.
Ficou-me, no entanto, outra dúvida que nunca consegui esclarecer: quantos
bilhetes pagaria a madame Trindade, sempre que ia ao cinema?
Jorge C. Chora
15/02/2021
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