Num dia fabuloso, (1970), em que seria um crime de lesa-majestade não gazetar, recusei ficar cadastrado e gazetei.
Telefonei à namorada, apanhámos o autocarro, pagámos uma
“quinhenta” até à praia. Com cartão de estudante, claro.
Saímos numa das paragens, antes da Costa do Sol(Lourenço
Marques). Era um dia de semana, não estávamos em férias e não havia quase
ninguém. Um dia ideal.
Depressa mudei de ideias. A descer o areal, vinha o
professor a cuja aula tinha faltado. O prof. vinha bem acompanhado.
Estou safo, também fez gazeta, tenho a companhia de um
compincha- pensei- já descansado.
Pensei mal e vão perceber porquê.
-Então “setor”, num dia destes há que aproveitar as ondas…
E o manganão, bem abraçado à sua joia, dispara:
-Tens toda a razão, mas só depois de cumprido o dever…
Em vez de estar calado, enfiei-lhe uma galga.
-Ó “setor” eu fui lá, mas como não o vi, resolvi vir para a
praia!
-Ah! Então eu faltei e tu seguiste o meu exemplo! Como
justificas o facto de já cá estares, primeiro do que eu e teres vindo de
autocarro, pois não vi carro nenhum estacionado?
Estava apanhado. Engoli em seco, dei uma gargalhada e
safei-me dali para fora:
-Um bom mergulho e… -calei-me a tempo- ia cometer outra
argolada, desejar-lhe sucesso com a namorada.
Afastei-me para ao pé da minha, com uma consolação: a minha
namorada, era mil vezes mais bonita do que a dele!
Jorge C. Chora
5/02/2021
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