O Gingas nasceu com a escola toda. No primeiro andar da casa
onde foi criado, tinha vista para a lixeira e o respetivo fedor metamorfoseado
em perfume.
Era esperto e desenrascado. Ainda muito jovem arranjou
emprego. A mando dos patrões e dos seus colaboradores, ia buscar café,
comprar-lhes tabaco e fazer recados. Em breve foi incumbido de entregar e
receber documentação, ir a serviços onde era necessário ser ardiloso e
despachado.
O Gingas só tinha um senão: desaparecia de vez em quando e
só surgia muito depois do horário de entrada.
Escapou duas ou três vezes, com os amens das chefes. À
quarta foi de vez. Foi chamado à atenção e teve de dizer, por que razão isso
acontecia.
Com os olhos fitando o chão, em tom muito baixo, confessou:
-Fui passear o Bernardo…
As chefes, fizeram-se de desentendidas:
- Como assim? Tens um cão com esse nome?
E o Gingas, envergonhado, dava voltas à cabeça para explicar
às “madamas” o que era aquilo.
E num cantinho do escritório, a jovem Lúcia, também farta de
saber o que aquilo significava:
-Ó Gingas, da próxima vez que fores passear o Bernardo, vou
contigo para não chegares atrasado!
Jorge C. Chora
20/02/2021
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