sábado, 20 de fevereiro de 2021

OS PASSEIOS DO BERNARDO

 

O Gingas nasceu com a escola toda. No primeiro andar da casa onde foi criado, tinha vista para a lixeira e o respetivo fedor metamorfoseado em perfume.

Era esperto e desenrascado. Ainda muito jovem arranjou emprego. A mando dos patrões e dos seus colaboradores, ia buscar café, comprar-lhes tabaco e fazer recados. Em breve foi incumbido de entregar e receber documentação, ir a serviços onde era necessário ser ardiloso e despachado.

O Gingas só tinha um senão: desaparecia de vez em quando e só surgia muito depois do horário de entrada.

Escapou duas ou três vezes, com os amens das chefes. À quarta foi de vez. Foi chamado à atenção e teve de dizer, por que razão isso acontecia.

Com os olhos fitando o chão, em tom muito baixo, confessou:

-Fui passear o Bernardo…

As chefes, fizeram-se de desentendidas:

- Como assim? Tens um cão com esse nome?

E o Gingas, envergonhado, dava voltas à cabeça para explicar às “madamas” o que era aquilo.

E num cantinho do escritório, a jovem Lúcia, também farta de saber o que aquilo significava:

-Ó Gingas, da próxima vez que fores passear o Bernardo, vou contigo para não chegares atrasado!

 

Jorge C. Chora

20/02/2021

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