domingo, 20 de dezembro de 2015

AS "PORTAS LARGAS" OU A "EMBAIXADA DO CARTAXO"

                                                                                               
 Ambos os nomes designavam a mesma taberna, situada na esquina da Rua Elias Garcia com a Av. Miguel Bombarda, perto dos Bombeiros da Amadora. Era um pólo de atracção para quem gostava de bons petiscos e melhor pinga. Conhecida como “Portas Largas”, (as portas de entrada eram de facto enormes) a sua fama estendia-se à região de Lisboa, e entre os seus fregueses contavam-se jovens, menos jovens e os da terceira idade. Foi assim durante décadas.

Entre os locais, muitos designavam-na como “Embaixada do Cartaxo” e, perdidos e achados era lá que, entre uma delícia gastronómica e outra, jogavam ao dominó e às cartas.

Há muitos anos, precisei de realizar obras em casa. Contratei um pedreiro, cliente assíduo do espaço.
No dia e à hora marcada para o início da empreitada, esperei em vão pela chegada do profissional. Passaram horas e eu sempre na esperança da sua vinda, aguardei, sereno, pela sua chegada: algo se tinha passado.

Pela hora do almoço, dei um pulo a sua casa e a esposa informou-me de que o marido tinha comido mais cedo e voltara para o seu escritório, vulgo,”Embaixada do Cartaxo”. Resolvi lá aparecer e o senhor garantiu-me que daí a meia hora estaria em minha casa. A meio da tarde, voltei à “Embaixada” e não tive coragem de o interromper: banqueteava-se com um prato de caracóis.
Retirei-me sem ele me ver mas encontrei na rua a sua mulher:

-Não me diga que ele não apareceu em sua casa! Se o quiser apanhar tem de ser logo de manhã, quando ele sair de casa. Vou dizer-lhe que está à porta pelas 9h,mas esteja meia hora antes.

Dito e feito. Às 8.30 h do dia seguinte, quando ele saia sorrateiro de casa, tinha-me à sua espera. Só foi comigo depois de lhe prometer ir, à tarde, lanchar à “Embaixada”.

À hora marcada, com uma pontualidade de fazer inveja ao mais pontual dos britânicos, marchámos os dois para a “Embaixada”. Um lanche na “Embaixada” era coisa demasiado séria para haver atrasos.

Jorge C. Chora




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