Nos idos de sessenta, ou no ano de setenta , a fama de Ravi
Shankar estava em alta em LM. Vem isto a propósito de um filme que vi, em que
ele e outros convidados, demonstravam o domínio instrumental do sitar e da
música indiana.
O filme passou no velho cinema Scala, cuja centralidade
fazia esquecer a sua antiguidade e uma certa falta de conforto, se comparado
com o de outras salas existentes na cidade.
O espectáculo foi longo, demasiado longo para os meus
dezassete ou dezoito anos. Embalado pela música, pelo calor e pela inactividade
forçada, acabei por ir cabeceando, e logo
a seguir adormecendo por breves períodos. Quando acordava, olhava ao meu redor:
não era o único que dormia. Relaxei e deixei-me ir na onda, acompanhado pelos dois
espectadores que me ladeavam.
À saída vi um dos senhores, que me tinha acompanhado no
abraço a Morfeu, comentar:
-Que espectáculo magnífico! Um tributo a Euterpe!
E um senhor indiano que ainda vinha meio a dormir e os
conhecia, corrigiu:
-Um tributo a Sarasvati, que essa é que é a deusa da música
…
Atravessei a rua, sentei-me na esplanada do Continental e
bebi duas imperiais: uma em homenagem a Euterpe e outra a Sarasvati.
E se mais deusas houvesse, mais “Laurentinas” tinham marchado…
Jorge C. Chora
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