sábado, 12 de dezembro de 2015

MEMÓRIAS DE LM


Nos idos de sessenta, ou no ano de setenta , a fama de Ravi Shankar estava em alta em LM. Vem isto a propósito de um filme que vi, em que ele e outros convidados, demonstravam o domínio instrumental do sitar e da música indiana.

O filme passou no velho cinema Scala, cuja centralidade fazia esquecer a sua antiguidade e uma certa falta de conforto, se comparado com o de outras salas existentes na cidade.

O espectáculo foi longo, demasiado longo para os meus dezassete ou dezoito anos. Embalado pela música, pelo calor e pela inactividade forçada, acabei por ir cabeceando,  e logo a seguir adormecendo por breves períodos. Quando acordava, olhava ao meu redor: não era o único que dormia. Relaxei e deixei-me ir na onda, acompanhado pelos dois espectadores que me ladeavam.
À saída vi um dos senhores, que me tinha acompanhado no abraço a Morfeu, comentar:

-Que espectáculo magnífico! Um tributo a Euterpe!

E um senhor indiano que ainda vinha meio a dormir e os conhecia, corrigiu:

-Um tributo a Sarasvati, que essa é que é a deusa da música …

Atravessei a rua, sentei-me na esplanada do Continental e bebi duas imperiais: uma em homenagem a Euterpe e outra a Sarasvati.

E se mais deusas houvesse, mais “Laurentinas”  tinham marchado…


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário