A idosa senhora apresentava dificuldades em deslocar-se.
Pediu à jovem e roliça vendedora da mercearia, se fazia o favor de lhe escolher
uma fruta boazinha.
-Boazinha, boazinha… isso sou eu… - brincou a comerciante.
Gavião, o velho marido da idosa, de bigode eriçado e apoiado
numa bengala que mais parecia um cajado, resmungou:
-…Zinha, ela é… uma zona e muito zona!
A esposa franziu a testa mas, quase de imediato, esboçou um
sorriso e disse-lhe:
-Há muito que não me elogiavas Gavião! Com essa disposição, posso
ter esperança na tua ressurreição?
Gavião fechou-se em copas mas resmungou de novo:
-Posso não ter ressuscitado…mas que ela é zona…é zona!
Bom, pode ser que ela se transforme numa espécie de código
postal, pensou a esposa, recusando-se a aceitar o fim da subida aos céus.
Jorge C. Chora
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