terça-feira, 15 de dezembro de 2015

BOAZINHA


A idosa senhora apresentava dificuldades em deslocar-se. Pediu à jovem e roliça vendedora da mercearia, se fazia o favor de lhe escolher uma fruta boazinha.

-Boazinha, boazinha… isso sou eu… - brincou a comerciante.

Gavião, o velho marido da idosa, de bigode eriçado e apoiado numa bengala que mais parecia um cajado, resmungou:

-…Zinha, ela é… uma zona e muito zona!

A esposa franziu a testa mas, quase de imediato, esboçou um sorriso e disse-lhe:

-Há muito que não me elogiavas Gavião! Com essa disposição, posso ter esperança na tua ressurreição?

Gavião fechou-se em copas mas resmungou de novo:

-Posso não ter ressuscitado…mas que ela é zona…é zona!

Bom, pode ser que ela se transforme numa espécie de código postal, pensou a esposa, recusando-se a aceitar o fim da subida aos céus.

Jorge C. Chora

                                                 

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