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Elegantes e bronzeadas senhoras, entre muitas outras,
povoavam as esplanadas dos cafés de LM, na década de sessenta e princípios da
de setenta.
Nas férias tinha o hábito de ir à
baixa, nomeadamente ao café Continental, entre outros, em que ouvia algumas damas pedirem:
-Por favor, um chá frio …
Intercalavam os goles de chá com fumaças aromáticas, pois
o fumo dos cigarros da época, diferentemente dos actuais, cheirava bem. Na
altura fumava e não lhes gabava o gosto desta alternância entre o tabaco e o
chá.
Um dia sentei-me numa mesa acabada de ficar vaga, em que as
chávenas de chá ainda não tinham sido retiradas e cheirou-me a uísque. Quando o
empregado veio, um dos mais antigos da casa, perguntei-lhe se serviam a
referida bebida em chávenas. A velha raposa sorriu-me, fez-me um sinal com o
indicador como a pedir-me silêncio, e disse-me em voz baixa:
-O chá frio é assim…
Na mesa ao meu lado, um senhor já entradote, que eu só
conhecia de vista, fez que sim com a cabeça e disse-me, exagerando
propositadamente a pronúncia:
-Em “Bijeu”, que é a minha terra, isto também acontece, só
que é vinho branco, o que algumas damas bebem em chávenas…
O sábio de Viseu ainda me ensinou uma frase, caso fosse
necessário proteger as discípulas de Baco que cambaleassem:
-Depois do acidente, nunca mais conseguiu recuperar…
Agradeci e daí em diante, nunca mais estranhei as
dificuldades de locomoção apresentadas por algumas senhoras, após o consumo de
várias chávenas de chá frio.
Jorge C. Chora
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