sábado, 12 de dezembro de 2015

O CHÁ FRIO E A ELEGÂNCIA NAS ESPLANADAS DE LM

                     O
Elegantes e bronzeadas senhoras, entre muitas outras, povoavam as esplanadas dos cafés de LM, na década de sessenta e princípios da de setenta.

Nas férias tinha o hábito de ir à baixa, nomeadamente ao café Continental, entre outros, em que ouvia algumas damas pedirem:                                                                                                                                                                                                                                      
-Por favor, um chá frio …

Intercalavam os goles de chá com fumaças aromáticas, pois o fumo dos cigarros da época, diferentemente dos actuais, cheirava bem. Na altura fumava e não lhes gabava o gosto desta alternância entre o tabaco e o chá.

Um dia sentei-me numa mesa acabada de ficar vaga, em que as chávenas de chá ainda não tinham sido retiradas e cheirou-me a uísque. Quando o empregado veio, um dos mais antigos da casa, perguntei-lhe se serviam a referida bebida em chávenas. A velha raposa sorriu-me, fez-me um sinal com o indicador como a pedir-me silêncio, e disse-me em voz baixa:

-O chá frio é assim…

Na mesa ao meu lado, um senhor já entradote, que eu só conhecia de vista, fez que sim com a cabeça e disse-me, exagerando propositadamente a pronúncia:

-Em “Bijeu”, que é a minha terra, isto também acontece, só que é vinho branco, o que algumas damas bebem em chávenas…

O sábio de Viseu ainda me ensinou uma frase, caso fosse necessário proteger as discípulas de Baco que cambaleassem:

-Depois do acidente, nunca mais conseguiu recuperar…

Agradeci e daí em diante, nunca mais estranhei as dificuldades de locomoção apresentadas por algumas senhoras, após o consumo de várias chávenas de chá frio.

Jorge C. Chora




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