quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O REGRESSO A LM

                       

Por volta de 1966,os meus pais tiveram, ao fim de muitos anos de trabalho, direito a gozar uma licença graciosa. Vieram eles e viemos nós, eu e o meu irmão.

Logo no início das férias o meu pai teve de tratar de um assunto em Lisboa, creio que de seguros, numa morada algures no Bairro Alto.

Depois de calcorrearmos ruas e vielas, de subirmos e descermos, de perguntarmos a muitos transeuntes se sabiam indicar-nos a malfadada morada, ouvimos quase sempre a mesma resposta:

-Desculpem mas não somos daqui… -E miravam-nos, a mim e ao meu irmão, enormes(para a época) e eu, um autêntico texugo, mas de pouca idade, de calções como era o hábito em Moçambique, como se estivessem na presença de dois extraterrestres.

Nunca tínhamos estado numa terra em que não encontrássemos os naturais. Continuámos com a busca até que o meu pai, exasperado exclamou:

-Estamos perdidos…se  ao menos soubesse onde estamos!

-Ó pai, mas isso sei eu!

-Então diz, já ajudas em alguma coisa… - e esboçou um sorriso de esperança.

Não me fiz rogado:

-Estamos na rua dos cansados!

O meu progenitor engasgou-se, abriu os olhos desmesuradamente e…por fim, comentou:
-Esse teu humor ainda me mata!

E foi quando vislumbrámos, por acaso, o nome da rua que tanto procurávamos. Encontrado o número da porta, obtivemos uma informação inesperada: a companhia mudara para um local bem longe dali, para os lados de Santos, julgo eu.

No dia seguinte, antes de partirmos à descoberta da nova direcção, fui advertido:

-Não venhas de novo com a história da rua dos cansados…

-O pai tem razão, aqui não é como lá…lá andamos trezentos quilómetros para beber um café e ajudar a fazer a digestão. Aqui andamos uns metros e achamos que fizemos uma viagem de circum-navegação…

-Mau..é a nova versão da rua dos cansados?

E não sei se foi por esta e por outras, que eu e o meu irmão ficámos internos no Colégio de S. José e Stª Maria, em Mangualde, e eles regressaram felizes e contentes a LM
.
Só dois anos depois é que voltámos a LM e a atenazar os “velhotes”.

Jorge C. Chora


Sem comentários:

Enviar um comentário