quinta-feira, 13 de abril de 2023

AS LÁGRIMAS DE LIA


Era o primeiro dia de aulas. Lia trajava uma bata axadrezada, obrigatória naquela escola.

Mal dera dois passos, quando ao entrar na escola, escorregou no chão molhado da chuva que caíra de noite. Esfolou os joelhos e rasgou a saia.

Ana que seguia imediatamente atrás, prontificou-se a ajudá-la. Deu-lhe a mão, levantou-a, enxugou-lhe as lágrimas que lhe marejavam a cara.

Não era a ferida que lhe doía: era a saia rasgada, pois sabia o sacrifício que a mãe fizera para lha comprar.

Ana continuava de mão dada a Lia. Continuava a enxugar-lhe as lágrimas e a consolá-la, mas sem sucesso.

A professora deixou-as ficar juntas na mesma carteira, sempre de mãos dadas. Ana era dextra e Lia era canhota e isso permitia-lhes continuarem a escrever, sem largarem as mãos uma da outra.

No fim das aulas Ana prometeu ajudar Lia. Foram a um ourives, conhecido de Ana e disse-lhe que estava farta do anel que tinha, e ia pedir à mãe que lhe comprasse outro e queria vender aquele.

As lágrimas de Lia redobraram. Apertou com mais força a mão de Ana.

Ana ao retirar de novo o seu lenço para limpar as lágrimas de Lia, deixou cair em cima do balcão uma séria de lágrimas petrificadas. O ourives olhou-as e analisou-as à lupa. Espantou-se: eram pequenas pérolas transparentes, lindas e raras.

Seguiram para uma loja onde vendiam fardas e compraram outras saias   iguais à da farda.

O problema de Lia desapareceu.

Lia e Ana ainda hoje são as melhores amigas e ao chegarem à idade adulta, mudaram os seus primeiros nomes para um, comum às duas e indestrutível: Liana seguidos dos outros nomes que já tinham.

Jorge C. Chora

13/4U/2023

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