Era o
primeiro dia de aulas. Lia trajava uma bata axadrezada, obrigatória naquela
escola.
Mal dera
dois passos, quando ao entrar na escola, escorregou no chão molhado da chuva
que caíra de noite. Esfolou os joelhos e rasgou a saia.
Ana que
seguia imediatamente atrás, prontificou-se a ajudá-la. Deu-lhe a mão,
levantou-a, enxugou-lhe as lágrimas que lhe marejavam a cara.
Não era a
ferida que lhe doía: era a saia rasgada, pois sabia o sacrifício que a mãe
fizera para lha comprar.
Ana
continuava de mão dada a Lia. Continuava a enxugar-lhe as lágrimas e a
consolá-la, mas sem sucesso.
A professora
deixou-as ficar juntas na mesma carteira, sempre de mãos dadas. Ana era dextra
e Lia era canhota e isso permitia-lhes continuarem a escrever, sem largarem as
mãos uma da outra.
No fim das
aulas Ana prometeu ajudar Lia. Foram a um ourives, conhecido de Ana e disse-lhe
que estava farta do anel que tinha, e ia pedir à mãe que lhe comprasse outro e
queria vender aquele.
As lágrimas
de Lia redobraram. Apertou com mais força a mão de Ana.
Ana ao
retirar de novo o seu lenço para limpar as lágrimas de Lia, deixou cair em cima
do balcão uma séria de lágrimas petrificadas. O ourives olhou-as e analisou-as
à lupa. Espantou-se: eram pequenas pérolas transparentes, lindas e raras.
Seguiram
para uma loja onde vendiam fardas e compraram outras saias iguais à da farda.
O problema
de Lia desapareceu.
Lia e Ana
ainda hoje são as melhores amigas e ao chegarem à idade adulta, mudaram os seus
primeiros nomes para um, comum às duas e indestrutível: Liana seguidos dos
outros nomes que já tinham.
Jorge C.
Chora
13/4U/2023
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