segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Eterna Viúva

Três vezes se casou e idêntico número de vezes enviuvou. De cada uma das situações de viuvez saiu mais rica e mais formosa. Uma das características dos pretendentes e futuros viúvos, para além da fortuna ser maior do que a do antecessor, a respectiva idade era também superior.

Até aqui nada de invulgar. O pior foi o que aconteceu à quarta, em que quem entregou a alma ao Criador foi nem mais nem menos do que a Eterna Viúva. Neste quarto enlace ela casara com um jovem. Viúvo rico, despendeu um esforço para conseguir verter uma lágrima, do olho esquerdo, deixando o outro livre para uma observação cuidada do elemento feminino presente na cerimónia. Nada que não fosse previsível.

O imprevisível aconteceu na altura do funeral. Um ramo de flores caiu ao chão quando a porta da carrinha funerária se abriu. O viúvo, no momento em que o recolhia, recebeu com o caixão em cima de tal forma que ficou com a bela cabeça esmagada.

Há quem diga que o caixão se elevou no ar, tomou balanço e juram que ele andou à procura da cabeça do viúvo.

E foi assim que a Eterna Viúva enviuvou pela quarta vez, se é que uma morta pode enviuvar.


Jorge C. Chora

2 comentários:

  1. Desta série, é a minha preferida! Embora com um humor um bocado negro... eheheheh...

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  2. Olá Jorge!

    Que bom ler as tuas histórias!
    Quem sabe se não podemos fazer uma parceria? Isto é, se não me dá para ilustrar as tuas histórias, agora que me estou a iniciar timidamente em pintura, através das novas tecnologias?
    Bem vindo!

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