Marta mandou esculpir a cabeça de seu marido e colocá-la num pedestal, no quintal da sua casa. Na base do pequeno monumento mandou gravar a seguinte inscrição: A um Homem que merece.
O velho Fabião achou exagerado o acto de sua mulher e comunicou-lhe isso mesmo, embora, lá no fundo, se sentisse não só honrado como profundamente reconhecido.
Desse dia em diante as relações entre o casal atingiram um ponto de harmonia tal que mesmo quando ele se exaltava, a doçura de Marta logo o apaziguava. Fabião andava nas nuvens e tudo o que ela fazia lhe agradava.
A cabeça esculpida, à medida que o tempo passava, parecia humanizar-se, tomar cor, assemelhar-se cada vez mais aos tons avermelhados de Fabião.
A sovinice de Fabião foi cedendo e a sua amada foi recebendo o que nunca recebera antes: flores e bolos.
A aldeia cobriu-se de espanto perante os arroubos românticos do conterrâneo e a felicidade de Marta.
A notícia da cabeça esculpida no quintal do casal correra entretanto e logo foi associada ao milagre da metamorfose testemunhada por todos. O lugarejo transformou-se quase num campo de menhires, tantos foram os pedestais semeados em tudo o que era canto.
A desilusão depressa se apoderou da população pois não obteve nem de perto nem de longe o que Marta alcançara.
As comadres de Marta deixaram-se de rodeios e insistiam amiúde:
-Qual é o teu segredo? Como mudaste o Fabião?
-Qual segredo nem meio segredo! - e sorria …
-Tu é que a sabes toda…
Passaram-se alguns anos e a comunidade desistiu de descobrir o segredo do casal. Ainda hoje, sempre que Fabião se irrita, Marta continua a ir ao seu quintal, com uma pequena cesta de tomates e atira-os à cabeça esculpida, enquanto grita:
-Toma Malandro que é para saberes. Não gostas? Toma outro. Ai agora não falas? Toma lá o terceiro que três foi a conta que Deus fez.
Logo a seguir, despeja-lhe um balde de água e remata:
-E agora lava-te seu porcalhão!
Jorge C. Chora
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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