segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Não é possível

O computador era velho, ou melhor, velhíssimo. O dono pensou em dá-lo mas o problema que se lhe colocou foi o de não ter a quem o oferecer por não se recordar de quem o pudesse aceitar.
Depois de muito pensar e não chegar a conclusão alguma, decidiu adiar a solução.

Todos os dias, ao olhar para o decrépito objecto e para o espaço desperdiçado, numa casa onde até alguns centímetros eram uma preciosidade, a vontade de se desfazer dele era enorme e sentia que adiar a saída do trambolho do seu lar era uma péssima decisão.

Um belo dia teve uma ideia que lhe pareceu luminosa: Tinha guardado a embalagem do novo computador, para efeitos de garantia, e lembrou-se de embalar o velho e deixá-lo na rua a ver se lhe davam sumiço. Ao descer a escada encontrou um vizinho que o ajudou a abrir a porta do prédio e puseram-se à conversa, tendo para o efeito pousado a embalagem na capota do seu carro.

Ainda a conversa ia no início quando um homem a correr deita as mãos à embalagem e…pernas para que as quero…
Os olhos do ex-proprietário sorriam-lhe ao ver o seu incómodo resolvido e ainda ajudou o ladrão a correr mais ao gritar:

-Agarrem-no… agarrem-no - e acto contínuo o ladrão acelerou a corrida e desapareceu de vista.
Um profundo alívio apoderou-se de si. Dormiu como um anjo e levantou-se com uma sensação de leveza e de dever cumprido.

Ao sair, o coração começou a bater-lhe mais depressa e apoderou-se de si uma incredulidade dolorosa; a embalagem estava à porta com o seguinte bilhete: O LIXO DEVE COLOCAR-SE NO CAIXOTE DE LIXO.

Jorge C. Chora

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