sábado, 8 de outubro de 2022

BADOCHA


 

Badocha era o cúmulo da organização. O exemplo inultrapassável da programação ao milímetro, o programador exemplar.

Coube-lhe a planificação de uma visita a um parque de animais, destinada a estrangeiros. Verificada a lista de material necessária à viagem, antes da partida, três vezes foi reverificada.

No segundo dia de viagem, o jipe deixou de andar. As aflições das clientes começaram: uma tinha dores de barriga, duas outras, vontade de urinar. Duas assistentes ainda jovens, estenderam lençóis em frente dos pipis das madames e uma terceira, montou uma cortina na parte de trás. Acabado o serviço. Colocaram-lhes à disposição, toalhetes perfumados hipoalérgicos.

A um gesto do Badocha, saíram do carroção rebocado pelo Jipão, quatro matulões, transportando uma enorme maca, com um grande orifício a meio, e uma lona que se abria e fechava, onde instalaram um grande funil que encaixava no depósito do jipe.

Badocha não bebia água, só gin e uísque lacrado, puro. A um sinal de Badocha, deitaram-no de barriga para baixo, com a braguilha previamente preparada, levantaram a maca, apontaram--na ao funil e durante meia hora, procederam ao enchimento do tanque.

Finda a operação, as assistentes, distribuíram chocolates enquanto delicadamente iam pedindo:

-All Aboard! Please!

De mil em mil quilómetros a operação repetia-se, motivo pelo qual o Badocha tinha no tablier do Jipão, um inesgotável fornecimento de gins das melhores marcas e de uísques das melhores proveniências.

-Não era preferível trazerem reservas de gasolina? - perguntaram.

E o Badocha, delicadamente, devolveu a pergunta:

- E o cheiro a gasolina?

 

Jorge C. Chora

8/10/2022

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