terça-feira, 18 de outubro de 2022

MISCELÂNEA

 


Gostava de beber um copo da mixórdia que nunca conseguiu descobrir de que era feita. Era no Bar Pirata, em Lisboa, nos Restauradores. Não foi por falta de tentativas. O homem do bar é que sabia dar-lhe a volta, disfarçar o assunto, fingir-se de surdo.

Havia, no entanto, algo estranho. Tinha a sensação de estar a ser seguido, um pouco  mesmo ali, naquele bar.

 Dali saia para o Café Paladium, jogava um pouco de bilhar com uns amigos ocasionais e depois seguia para a loja. Era uma grande papelaria onde também se vendiam máquinas de teclado Azerty e Qwerty, por ordem expressa de Salazar, por decreto de 1936 ou 37.

Ao terceiro dia, o Bar Pirata transbordava. Era praticamente impossível entrar mais alguém. Teve de esperar. Quando conseguiu penetrar, apertado como sardinha em lata, também entraram mais dois ou três clientes.

Enquanto bebia o pirata, teve a nítida sensação de que lhe tinham mexido nos bolsos traseiros das calças. Não ligou. Tanta gente encostada, umas às outras, era impressão de certeza.

Ao pagar o café no Paladium, teve a certeza de que lhe tinham revistado a carteira. O Bilhete de Identidade, em vez de estar à frente, estava atrás do livro de cheques.

Olhou em redor. À sua frente reconheceu um estranho homem, de cabelo curto e olhos cinzentos, metálicos. Sentia-se à distância que não era flor que se cheirasse. Olhou-o com mais atenção. Tinha sido ele que estivera atrás de si, no Bar Pirata. Tinha a certeza. Reparou melhor no volume que apresentava do lado esquerdo, debaixo do braço: era uma arma de todo o tamanho. Pide? Não lhe parecia. Não tinha aquele ar circunspecto e vaidoso de ser reconhecido como pertencendo àquela organização.

Afinal quem era o estupor? Encheu-se de coragem, levantou-se, aproximou-se da mesa do sujeito e qual não foi a surpresa com o convite que lhe foi feito:

- Sente-se sr. Carvalho!

Sentiu o sangue gelar-lhe nas veias. Mas, logo de seguida, verificou que a pronúncia não era portuguesa, mas americana.

-E o senhor chama-se?

- Rosemary- e estendeu-lhe uma mão suave e pequena.

-Observou-a. Os olhos nada tinham de atemorizador. A voz era suave e bem modelada.

-Está surpreendido por eu saber quem é. Onde vive e o que faz?

-Um pouco.

- Vim investigar o pagamento de seguros que lhe fizemos. Se tinha havido alguma tramóia ou jogo sujo na cobrança. Já verifiquei a honestidade do seu procedimento e estou na posse dos dados que me permitem elaborar um relatório seguro e verdadeiro.

Aos poucos, o sr. Carvalho lembrou-se que já a vira inúmeras vezes e que ela já estivera na sua loja, perto de sua casa e frequentara todos os locais onde ele ia, assim como as suas amizades. Estava em Portugal há seis meses!

-E se eu não tivesse sido honesto?

- A cara de Rosemary endureceu. Levou a mão ao sovaco e mostrou-lhe a arma. Logo de seguida mudou. Um sorriso aberto e um abraço espontâneo, bem apertado e uma confissão à americana.

- Sei que enviuvou, simpatizo consigo e não me importava de o conhecer ainda melhor!

Carvalho arrepiou-se. Rosemary notou e disse-lhe:

-Não tenho receio. Sou uma mulher apaixonada. Tirou os óculos, despenteou-se ligeiramente e mostrou a sua feminilidade. Sorriu, abriu ligeiramente a blusa e mostrou uns seios rosados, bem dimensionados, que logo cobriu de modo pudico.

O Resto da história fica por sua conta.

Jorge C. Chora

18/10/2022

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