Gostava de
beber um copo da mixórdia que nunca conseguiu descobrir de que era feita. Era
no Bar Pirata, em Lisboa, nos Restauradores. Não foi por falta de tentativas. O
homem do bar é que sabia dar-lhe a volta, disfarçar o assunto, fingir-se de
surdo.
Havia, no
entanto, algo estranho. Tinha a sensação de estar a ser seguido, um pouco mesmo ali, naquele bar.
Ao terceiro
dia, o Bar Pirata transbordava. Era praticamente impossível entrar mais alguém.
Teve de esperar. Quando conseguiu penetrar, apertado como sardinha em lata,
também entraram mais dois ou três clientes.
Enquanto
bebia o pirata, teve a nítida sensação de que lhe tinham mexido nos bolsos
traseiros das calças. Não ligou. Tanta gente encostada, umas às outras, era
impressão de certeza.
Ao pagar o
café no Paladium, teve a certeza de que lhe tinham revistado a carteira. O
Bilhete de Identidade, em vez de estar à frente, estava atrás do livro de
cheques.
Olhou em
redor. À sua frente reconheceu um estranho homem, de cabelo curto e olhos
cinzentos, metálicos. Sentia-se à distância que não era flor que se cheirasse.
Olhou-o com mais atenção. Tinha sido ele que estivera atrás de si, no Bar
Pirata. Tinha a certeza. Reparou melhor no volume que apresentava do lado
esquerdo, debaixo do braço: era uma arma de todo o tamanho. Pide? Não lhe
parecia. Não tinha aquele ar circunspecto e vaidoso de ser reconhecido como
pertencendo àquela organização.
Afinal quem
era o estupor? Encheu-se de coragem, levantou-se, aproximou-se da mesa do
sujeito e qual não foi a surpresa com o convite que lhe foi feito:
- Sente-se
sr. Carvalho!
Sentiu o
sangue gelar-lhe nas veias. Mas, logo de seguida, verificou que a pronúncia não
era portuguesa, mas americana.
-E o senhor
chama-se?
- Rosemary-
e estendeu-lhe uma mão suave e pequena.
-Observou-a.
Os olhos nada tinham de atemorizador. A voz era suave e bem modelada.
-Está
surpreendido por eu saber quem é. Onde vive e o que faz?
-Um pouco.
- Vim
investigar o pagamento de seguros que lhe fizemos. Se tinha havido alguma
tramóia ou jogo sujo na cobrança. Já verifiquei a honestidade do seu
procedimento e estou na posse dos dados que me permitem elaborar um relatório
seguro e verdadeiro.
Aos poucos,
o sr. Carvalho lembrou-se que já a vira inúmeras vezes e que ela já estivera na
sua loja, perto de sua casa e frequentara todos os locais onde ele ia, assim
como as suas amizades. Estava em Portugal há seis meses!
-E se eu não
tivesse sido honesto?
- A cara de
Rosemary endureceu. Levou a mão ao sovaco e mostrou-lhe a arma. Logo de seguida
mudou. Um sorriso aberto e um abraço espontâneo, bem apertado e uma confissão à
americana.
- Sei que
enviuvou, simpatizo consigo e não me importava de o conhecer ainda melhor!
Carvalho
arrepiou-se. Rosemary notou e disse-lhe:
-Não tenho
receio. Sou uma mulher apaixonada. Tirou os óculos, despenteou-se ligeiramente
e mostrou a sua feminilidade. Sorriu, abriu ligeiramente a blusa e mostrou uns
seios rosados, bem dimensionados, que logo cobriu de modo pudico.
O Resto da
história fica por sua conta.
Jorge C.
Chora
18/10/2022
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