Nunca foi bom de assoar. Raro era o dia em que não dava uma coça em alguém. Nasceu nas barracas que hoje já foram abaixo. Todos os dias havia sobressaltos: botijas de gás que explodiam, pauladas, homens que se enfiavam nas barracas dos outros, gritinhos de prazer que escapavam em momentos inoportunos.
Era temido
por todos e fazia dos outros o que queria. Um dia não viu o cavalo no escuro da
estrebaria, e de modo sorrateiro, foi-se enfiando pelo escuro dentro, em busca
dos arreios do bicho que lhe davam jeito para vender… Azar dos azares. Era a
cavalariça em que o espanta-cavalos tinha o hábito de penetrar à sorrelfa e dar
uma daquelas sovas de criar bicho ao desgraçado do animal.
O cavalo, há
quem diga e afirme a pés juntos, que o topou logo na entrada e o deixou entrar,
como se não tivesse dado por ele.
De repente,
sem ninguém esperar, deu-lhe um coice daqueles bem dados, nas partes.
Acordou três
dias depois, no hospital, desorientado, na enfermaria feminina. De imediato palpou
os seus documentos e não os encontrou.
Berrou pelas
médicas, pelas enfermeiras, pelo pessoal auxiliar e também pelo da limpeza, não
fosse dar-se o caso de terem e varrido, inadvertidamente, o penduricalho para o
lixo.
Acorreram
todas numa aflição espantosa, julgando tratar-se de um caso de morte súbita e
irreversível.
Inteiradas
do assunto, acalmaram a doente, foram-lhe buscar um grande espelho, formaram
uma grade roda e pediram-lhe de forma delicada e assaz feminina:
- A menina
veja só o espanto de vagina, com que foi alindada. Todas queríamos uma igual à
sua: perfeita, de tamanho ideal, perfeita para uso diário.
Tem, aliás,
uma lista de espera gigante para conseguirem uma igual à sua!
Jorge C.
Chora
11/10/2022
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