quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O BARCO

 Pela telha partida do telhado,

viu a estrela e soube da novidade:

Nascera-lhe um irmão!

Não dormiu o resto da noite toda.

Magicou no que lhe podia oferecer.

Dinheiro não tinha, só tinha seis anos,

mas tinha a vontade e a certeza de lhe dar algo!

E foi a ouvir as ondas do mar a lamberem-lhe a barraca

que decidiu oferecer-lhe um barco, com velas, leme

camarote de capitão, leme interior e exterior

para os dias da acalmia, proteções para bombordo e estibordo,

e uma gávea para estar com o irmão em dias de tempestade.

Ainda de madrugada serrou madeiras, cortou mastros,

das suas cuecas de morangos descoloridos fez velas

e de manhãzinha, feita a obra, foi ver o mano, abriu a janela

e segredou-lhe: maninho fica a ver o teu barco, daqui do teu quarto!

Acercou-se da água, colocou-o no mar e ficou a vê-lo navegar!

Uma onda grande e inesperada levou-lhe o barco.

Lançou-se ao mar e foi incapaz de regressar:

-Não te aflijas mano, eu guardo o barco, até ao dia em que o venhas buscar! e acenava-lhe de longe, enquanto as ondas a engoliam.

 

Jorge C. Chora

12/10/2022

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