A casa era aceitável, localizada numa pequena praça, com um
jardinzinho de margaridas. Alugaram-na para a benjamim da família. Vinha
estudar antropologia, seguindo os passos do seu adorado avô, ainda que a
contragosto do mesmo: muito esforço para poucas contrapartidas - mas se gostas-
e inchava de orgulho pela opção da neta.
Depressa se apercebeu o velho progenitor, de que o bairro
não só tinha má fama, como também os próprios moradores a alimentavam, através
de uma teia de “mentideiros”. Tudo o que dele se propalava, acaba por ser
verdade ou ainda pior.
Deu uma volta pelo bairro da neta. Bebeu um copo aqui e outro
ali, pagou umas cervejas e soube que a fonte da má-língua era proveniente da
taberna, em frente da casa da sua neta.
Num dia de casa cheia, o velho sábio, acompanhado de outros
netos, a maior parte de informática, foi jantar a esse local. A determinada a
altura, ligaram o computador em alto som e anunciaram aos clientes, com muito
ênfase, que a própria televisão ia falar do restaurante
-Silêncio gritou o dono:
- Estamos na TV! Nem um pio!
E o noticiário relatava que uma instituição tinha atribuído
um avultado prémio devido à qualidade de vida, conservação, cuidados dedicados
às praças e jardins do bairro, e que a contestação tinha sido imediata por
parte de todos os bairros circundantes. O motivo unanimemente alegado, era a
má-língua! O prémio tinha sido de imediato retirado!
Nesta altura, o restaurante em peso se virou para o dono, e
sem dizer uma palavra fingiu estar a chorar!
-Ah! Grandes canalhas! Quem dá e
tira vai para o inferno! Eu logo vi que as bebedeiras e as zaragatas que esses
tipos da TV armaram aqui, iam dar mau resultado! - bradava o arruaceiro do
taberneiro da má-língua.
Jorge C. Chora
5710/2022
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