João comia a bucha nas margens do Zêzere, cortando pedaços que engolia com água do seu cantil.
De repente, alguém atirou algo para água e pareceu-lhe ouvir
latir.
Não pensou duas vezes. Largou a bucha atirou-se à água e
apanhou o saco de sarapilheira, depressa o cortou e abriu.
Espantou-se com o que viu: o ser mais feio que vira toda a
sua vida. Era um cão. Friccionou-o, fê-lo expelir a água que engolira,
aqueceu-o contra o peito e chamou-o de Zêzere.
Já salvo, o Zêzere lambeu-lhe a orelha e deu-lhe a pata.
Estava selada uma grande amizade,
João era pastor e depressa o Zêzere se afeiçoou à tarefa.
Com o tempo alcançou um tamanho inusitado. Fazia caretas que assustavam um boi,
quanto mais um lobo.
Companheiro inseparável do rebanho e de João, nunca deixou
que algum dos membros se transviasse ou fosse atacado.
Um dia, relâmpagos como nunca tinham visto, queimaram as
cercas, os abrigos, as reservas,
mataram-lhes as ovelhas e deixaram-nos sem nada.
João entrou em desespero, sem família, sem crédito e sem
amigos que lhe valessem, o que iria fazer?
Sentiu a língua do Zêzere no ouvido. Fez-lhe uma a festa e
disse-lhe:
-Olha ao que estamos redizídos!
Zêzere voltou a lamber-lhe a orelha, mas agora com um
pequeno ronco. João voltou-se e viu o que Zêzere lhe trouxera; cerca de
quarenta ovelhas!
João não acreditava, podia começar de novo. Levantou- e foi atrás
se do rebanho conduzido pelo Zêzere. Depois de muito andarem, deram com a
grande gruta que os abrigara. À entrada tiveram uma surpresa: Estava cheia de
lobos.
Zêzere tal qual um general, levantou o sobreolho deu um urro
tremendo, alinhou a seu lado os carneiros de cornos já duros e deu ordem de ataque.
Metade dos lobos fugiram, e os que ficaram levaram tanta cornada, que ficaram
com recordações para toda a vida: onde já se vira os carneiros cornearem forte
e feio os lobos?
Aos poucos João restabeleceu o negócio, tenho sempre a seu
lado o seu braço direito: o Zêzere.
Jorge C. Chora
3/10/2022
Sem comentários:
Enviar um comentário